Alucinados, na estrada da vida, extrapolamos os limites, desrespeitamos a sinalização; fechamos oportunidades de ultrapassagem para os objetivos dos outros, no trabalho, na vida em família, na arte da política...; enfim, em todos os sentidos da interação humana, nós derrapamos nas curvas dos desejos; ao nos imaginarmos os maiorais; os bam-bam-bam de qualquer coisa ou sapiência; os donos do mundo – Velozes e furiosos pilotando nossas máquinas de última geração (nossa atual existência); ofuscamos com nossa pseudo luz de faróis cada vez mais potentes os que trafegam no sentido contrário ás nossas ambições e destino; sem habilitação para a vida (educação ética) jogamos muita gente para fora da estrada da existência; imaginando estar impunes.
Dia destes, como passageiro, viajando numa estrada federal em Minas fiquei chocado com o número de cruzes á beira da estrada; sim, aquelas que indicam que alguém morreu ali de acidente; ás vezes era uma solitária, noutras várias: duas, três, quatro cinco.
Confesso que se estivermos atentos; essa visão; ela nos faz parar para pensar em quanto e no que nossa vida vale a pena – quanto pode nos custar alguns minutos de tempo a mais ou a menos na estrada da vida; ou o simples prazer de acelerar; acelerar... – sem prestarmos atenção ás belezas do caminho: árvores belíssimas, aves, animais, um nascer ou por do sol, uma lua cheia num céu estrelado
Confesso que choca.
O que estou fazendo eu na estrada da vida; como estou trafegando?
De repente, numa curva do caminho está lá; fincado no chão; com ou sem adornos de flores vivas ou de plástico o simbolismo ainda tétrico para nossa atual visão de mundo: uma cruz espetada na terra, um perturbador aviso a nos relembrar que um dia, naquele lugar, alguém se bandeou para o lado de lá, talvez por descuido, ou por uma dessas fatalidades do destino; O que fazemos: um automático sinal da cruz, uma leve reduzida, e sai da frente que atrás vem gente; lá vamos nós, alucinadamente...
Quero repensar minha viagem – se eu me tornar uma cruz na beira estrada (esse é de certa forma nosso destino) não quero ser lembrado com “marditas” flores de plástico (dia de finados, aniversário, dia dos pais, natal e qualquer outra droga de datas comemorativas); gostaria de ser lembrado; apenas uma única vez com flores vivas: lembranças de saudade verdadeiras, lágrimas de saudade real, sem apego; apenas com emoção ligeira e passageira; até a próxima parada.
Amigos:
Que nosso final de existência seja como as cruzes plantadas na beira da estrada; mas, não importa se bem cuidadas e com canteiro de flores ou caindo aos pedaços:
Apenas que não estejam ali em vão... Apenas relembrando aos incautos viajores; que devemos estar atentos aos perigos da estrada.
Nem vítimas; nem réus; apenas simples cruzes na beira da estrada sem nome – sem dono - onde gostem de nascer as flores do campo e sintam prazer os pássaros em cantar nas proximidades – sem atrair romeiros nem buscadores de milagres.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
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