sábado, 3 de julho de 2010

EFEITOS PSICOLÓGICOS DE NÃO GANHARMOS O EXA

Numa sociedade mundial predominantemente neurótica (a competição é a marca registrada da neurose), o esporte é uma forma muito mais saudável de agregar energias, ideais e auto - afirmação dos povos; do que as guerras e revoluções.

É inegável que o comportamento dos atletas espelhe a condição de educação básica das nações que bem ou mal representam; pois, ao nascer trazemos uma bagagem somada ás influências do meio ambiente na infância; que nos confere a personalidade com que nos apresentamos. Nos primeiros anos absorvemos as posturas dos adultos com extrema facilidade; entre nós, parte expressiva de nossos atletas se origina de famílias que vivem sob pressão social.
A agressão (pré-anunciada pelos analistas da mídia) que culminou com a expulsão de um jogador que apresenta um perfil agressivo; foi fatal para nossas pretensões; e, além disso, deixou uma nódoa que espelha como nossa comunidade será vista lá fora – evidente que a postura de apatia dos craques do Dunga foi o fator mais importante na derrocada de nossos precários desejos. Faltou o que o povão chama de “saco roxo” que pode ser chamado também de patriotismo – nossa tendência cultural e histórica é mais para patriotada e lampionzada.
A forma como os holandeses exploraram nossos pontos fracos de personalidade e postura; deixa claro que daqui a diante; não basta um “catado” de jogadores que se agrupam em torno de um técnico como se fosse uma família protegendo seus interesses; é preciso muito estudo tanto na parte técnica quanto na psicologia para nos posicionarmos como top nas competições. Ou escolhemos melhor nossos representantes, tanto na política quanto no esporte, ou vamos cada vez mais pagar o mico de eternos candidatos a comunidade representativa do futuro. Não finalizei o bate papo antes do jogo entre Alemanha e Argentina; assistindo ao jogo ficou claro e patente a presença da dirigente maior da Alemanha ombreando com seus craques tanto na derrota quanto na vitória; dando a cara prá bater; quantos dirigentes nossos e dos vizinhos hermanos estavam presentes na hora do “vamos ver” quem é quem – claro que se os seus “funcionários” tivessem ganhado a copa; a maioria deles iria querer pegar carona e dividir os louros da vitória.

O momento é de reflexão.
Quer queiramos, gostemos ou não; a postura da seleção canarinho; bem como o esquema que envolveu todo o processo espelhou o comportamento da sociedade atual: omissa até o limite do suportável.
A cúpula do poder da confederação representa a classe política dominante; o comando técnico representa o poder público que não se interessa pelos anseios da população; os atletas espelham os servidores públicos; a torcida é o próprio povão movido a pão e circo; alguns críticos do processo são os que param prá pensar; com muita ressalva; representam a mídia.

O país está de ressaca em todos os sentidos possíveis.
Na ressaca moral quando desejo e frustração se mistura é hora de reavaliação; momento de fechar para balanço; quem sabe de maneira forte como fizeram França e Nigéria.

De que maneira a sociedade vai lidar com a frustração?
É lógico que a decepção é grande mesmo para os que não gostam de futebol; pois, pelos antecedentes de outras copas e potencial; o Brasil sempre entra nessa disputa como favorito e nada substitui o primeiro lugar. Mas, não levamos em conta algumas leis da vida: Quero; mas não posso - Desejo; mas não sou capaz.
Fica uma lição coletiva importante: potencial para pouco serve se não for acompanhado de forte e inteligente trabalho.

Não sabemos perder?
Tirando a acomodação das desculpas e justificativas; perder é triste; e evidencia nossas dificuldades. Saber perder é algo relativo e envolve contenção – ainda pouco a ver com humildade; que se expressa no mundo atual como educação e cultura (fairplay) – somos carentes até de fairplay; quanto mais de educação verdadeira.

Como lidar com o rescaldo do processo da derrota?
Essa oportunidade não pode ser descartada; somos um país de pobre memória; lições acabam em samba e pizza.
O conflito entre frustração e desejo nos leva a tentarmos fugir da realidade e da felicidade; pois quem dela quiser aproximar-se há que ser realista, simples, lógico, inteligente e justo. Quem prefere optar por desejos que nunca serão concretizados sem esforço e projetados no trabalho dos outros, como sonha o imaturo, certamente vai criar em sua vida sofrimento e doença. O sistema de pão e circo da vida moderna bandeou-se para o esporte das multidões alimentado pela mídia que estimula o consumo de bens, gozo dos sentidos físicos e tecnologia a qualquer preço; essa frustração vai “consumir” a vida de muitos e até onerá-los com intermináveis carnês para pagar a troca da TV.
As pessoas do povo de uma forma alienada projetam-se nos craques tanto nas vitórias quanto nas derrotas.

É preciso buscar culpados?
Claro. Mas, não para execrá-los; apenas para definir responsabilidade. Exemplo, não adianta culpar o técnico; a responsabilidade maior é da cúpula do poder. Não adianta o Dunga se demitir ou ser demitido; é preciso que os dirigentes da confederação sejam renovados. Nesse caso, numa analogia, o técnico representa o presidente da republica e a confederação o poder político e corporativo – se as coisas não vão bem; não adianta criticar nem demitir o presidente é preciso renovar o círculo dos poderosos de plantão; e substituir os craques vitalícios que não mais correspondem (funcionalismo).

De que forma as pessoas tendem a superar essa decepção?
Através dos mecanismos de contenção.
Aprendemos ao longo da vida a conter impulsos, tendências; sem resolvê-los; pura maquiagem. Exemplo: a criança egocêntrica e exigente, à medida que é educada e cresce, exterioriza a imagem de adulto educado no trabalho com os superiores ou clientes, embora seja um tirano com subordinados e familiares; até que um dia... Na atualidade as notícias escabrosas vão crescer; pois, o aumento dos estímulos do momento atual desarticula essas contenções que nos enganam. Porque nos contemos quando provocados em nossa agressividade, imaginamos ser uma pessoa calma; até que uma ou várias situações deixam a descoberto que ainda somos irritados e agressivos; daí, nós ficamos assustados e espantamos os que imaginavam nos conhecer.

O país vai ficar mais doente.
Pode parecer estranho á maioria; mas, essa frustração coletiva vai trazer doenças a alguns; pois, quando os mecanismos de contenção são desarticulados há somatização. Uma gastrite aguda; por exemplo, surge num indivíduo irritável, colérico; mas, medroso; quando intensamente contrariado nos seus interesses.
Outra forma usada pelo povão será a transferência da identidade.
Para superar a perda do título, os torcedores vão deslocar o foco dos seus interesses para os campeonatos locais; mesmo desconfiando de antemão que alguns campeões já estão pré-determinados pelo jogo de interesses.

Há torcedores e torcedores.
Claro que tudo isso será usado de forma mais consciente numa análise do rescaldo, pelas pessoas que já apresentam razoável condição de leitura da vida, o que as conduz a uma melhor percepção de si mesmas, de suas tendências e impulsos inadequados e de como enfrentá-los; pois, já sabem que cada coisa tem seu momento; que a evolução não dá saltos; pois, implica em educação que, é aprender aventurando-se a errar e acertar.
Além de usarem o momento para reflexões coletivas, alertando para a necessidade de educação da comunidade.
Uma das lições: não devemos colocar sonhos e expectativas em ombros alheios; pois, ainda egoístas e sem educação emocional quando lesados pelas atitudes dos outros nos sentimos ofendidos, nos magoamos e reagimos, revidando.

Não adianta apenas analisar o que foi perdido; vale muito avaliar o que deixou de ser ganho.
A teimosia de alguns fez com que o país perdesse muito da sua unidade e da conjunção de energia capaz de trazer resultados mais positivos. Se os poderosos da confederação tivessem ajustado a convocação aos melhores para nos representar; o resultado seria diferente. A seleção já saiu derrotada; pois, não representava a maioria; a desconfiança era grande – claro que não somamos como seria esperado.
As outras seleções campeãs eram muito melhores do que a atual?
Até certo ponto, não. Mas, na ocasião o povo fechou com os objetivos e realizamos milagres. Para ilustrar: quando estamos em desespero conseguimos realizar coisas extraordinárias; apenas porque sabemos com absoluta clareza o que desejamos; no dia a dia, pouco nós conquistamos; pois, não sabemos bem o que queremos. Sim. A teimosia (sinônimo de burrice) da cúpula do poder na confederação, ao não trocar 3 ou 4 jogadores, nos levou á derrota – pois, é melhor somar do que subtrair. Temos um ditado que tem um cunho relativo e especial de verdade: a voz do povo é a voz de Deus.

Há males que vêm prá bem.
Essa derrota tem suas vantagens:
Políticos oportunistas não usarão a alegria do povão para se locupletarem.
As pessoas estarão mais vivendo a realidade; e não se acomodarão a pão e circo.

Usando nosso espírito folgazão:
Não teremos que agüentar a falácia do Dunga nem dos políticos que pegariam carona na conquista dos craques em caso de vitória.
Vamos assistir ao desmanche e remontagem dos times locais para a continuidade dos campeonatos em banho Maria.
Ficaremos mais espertos para evitar a rapinagem dos oportunistas na construção dos estádios e no restante para receber a copa de 2014.
Consolo?
Nossos hermanos, os mais “sérios” candidatos ao título, como povo e nação, ficaram numa situação pior: seu orgulho e prepotência cultural como cover européia falida; ficou destroçada pela idolatria a uma pessoa caricata como seu deus Maradona. O que ele foi lá cheirar como técnico? – Como jogador foi muito bom – mas, como técnico é semelhante ao nosso Dunga – medíocre.

Para salvar 2010 apenas nos resta a eleição.

Como Deus é brasileiro, ele nos deu o técnico certo, o presidente, os políticos, e os jogadores certos; na hora certa; para que o povão possa libertar-se da mediocridade.

Mas, se a Espanha ganhar o mundial e o coringão o brasileiro: Deus nos ajude.

a maracutaia está á solta:
Amém.

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