sábado, 24 de julho de 2010

A MÍDIA E O LIVRE ARBÍTRIO

Lendo o jornal Diário da Região de SJRP, deparei-me com uma notícia: Dados da UNESP apontam que metade dos 600 alunos do ensino médio, de uma escola, entrevistados ingere álcool de forma moderada ou exagerada.
O álcool é a porta de entrada de todos os outros vícios; são bem conhecidos seus malefícios: na saúde das pessoas; fator importante de acidentes automobilísticos graves; agente principal nas brigas e agressões.
Os danos que pode causar na infância e adolescência são dignos de nota. A legislação não permite venda de bebidas alcoólicas a menor de 18 anos; essa lei não é respeitada nem fiscalizada. A bebida alcoólica no Brasil é a mais barata do mundo. Pouco ou nada se faz para que os problemas advindos do consumo de álcool; destrua vidas, famílias, sociedade.

Medidas paliativas importantes podem ser tomadas para minorar o problema: Proibição de propaganda de bebidas alcoólicas. Obrigatoriedade de aviso dos perigos para a saúde nos rótulos. Taxar as bebidas com impostos de forma severa. Fiscalização rigorosa. Proibição de veicular bebidas a eventos esportivos e culturais.

Por que nada se faz?
Não importa as desculpas e justificativas – na verdade o problema é um só, lucro e ganância; usando a Constituição e o livre arbítrio das pessoas como álibi.

Usaremos o problema do álcool para brincar de pensar sobre o tão falado livre arbítrio.

Falamos muito dele; mas, não paramos para pensar sério no que seja; inclusive, desconsiderar a lei de causa e efeito e a de retorno é um entrave cada vez mais importante á nossa evolução. Vou apenas pontuar alguns itens.

Estou livre para escolher é temporário; sou livre é definitivo.

Nosso livre arbítrio não é igual; nem poderia ser; pois somos desiguais ao infinito.

A capacidade de escolha é relativa no tempo e no espaço.

Foi convencionado que, a partir de determinada idade, o indivíduo está apto a fazer suas próprias escolhas; e a partir de outra, será responsabilizado pelas conseqüências inadequadas (leis de responsabilidade civil e criminal). Visto segundo uma ótica mais abrangente a capacidade de optar e de responsabilizar-se independe da idade cronológica na existência; está sim diretamente relacionada ás condições de evolução do indivíduo ao longo do tempo; isso explica o fato de que algumas crianças demonstram mais maturidade, capacidade de discernir e até sejam mais responsáveis do que os adultos que a cercam.

No presente as opções estão limitadas pelas conseqüências das escolhas efetuadas nos tempos passados.

Nossa evolução não é uniforme; apenas seqüencial; em virtude disso, as opções e a liberdade de escolha num determinado espaço de tempo é desigual; analisando-se esse fato num contexto limitado, a lei de causa e efeito assume a aparência de um determinismo punitivo até; sempre simploriamente confundido com sorte, azar ou destino.
Aprender a usar a liberdade é um desafio.

Somos criaturas paradoxais, vivemos e até morremos para alcançar a liberdade; sem saber do que se trata. Imaturos, revoltamo-nos quando descobrimos a outra face do nosso sonho de ser livre: precisamos responder por nossos atos; mesmo que num tempo a perder de vista.
Na fuga das responsabilidades nos acorrentamos; aprisionamo-nos aos efeitos das próprias escolhas, na vã busca da liberdade sem assumir as conseqüências; que incrível paradoxo: nós somos prisioneiros do próprio direito de sermos livres.
Em dado momento, mais maduros, encontramos a chave para desvendar esse mistério: precisamos libertar os outros para que nos sintamos mais livres; e, sem tentar escapar aceitamos que, quanto mais libertos nós nos tornamos; maior é a responsabilidade; pois uma não existe sem a outra, liberdade e responsabilidade são interdependentes, como nós o somos uns dos outros.

Estamos acostumados a analisar as interferências percebidas nos sentidos, materializadas e manifestas numa ação. Porém nem sempre as percebemos, devido ao egoísmo e o orgulho ficamos tão centrados em nossos umbigos que não percebemos os efeitos de nossas escolhas sobre os outros; apenas acusamos as sensações produzidas pelas escolhas dos outros sobre nós e reagimos; muitas vezes segundo a lei do olho por olho dente por dente.
Mas, a encrenca é mais embaixo; pois, quem foi alvo de uma ação de outrem tem o direito de resposta; a qualidade dela depende do grau de evolução: retalia ou perdoa.
É preciso juízo ao usar o livre arbítrio do outro como álibi para defender nossos interesses do momento; segundo o direito incluso na lei de retorno, as interferências de nossas escolhas na vida dos outros podem levar a um processo obsessivo segundo o mecanismo da sintonia.
- Então; nós estamos condenados a interferências danosas eternamente?
- Não! Somos dotados de mecanismos de defesa.
É um alívio saber que não estamos à mercê uns dos outros, que não somos vítimas dos caprichos de alguém. Somos todos dotados de um dínamo que podemos chamar de pensar/sentir/agir capaz de criar nosso sistema de defesa.

Beba com moderação:
Um sério entrave ao estudo da lei de causa/efeito é o conceito de normal, já que descamba quase sempre na banalização que fazemos a respeito de muitas escolhas, que produzem efeitos até chocantes; mas que, de tão comuns, passam a ser considerados pelas pessoas como algo “normal”.

Quando nossos interesses afetam fortemente a vida de outras pessoas devemos ter em conta algumas considerações:

A capacidade de discernir da criança é naturalmente menos desenvolvida que a do adulto; caberia portanto; a ele ajudá-la a perceber suas escolhas e as respectivas conseqüências. Como: abusar de determinado tipo de alimento e adoecer. Subir em lugares perigosos e se acidentar.
A do jovem já deveria ser mais desenvolvida; mas, nem sempre isso ocorre na prática, pois como a natureza não dá saltos, o jovem é a seqüência da criança que foi ou ainda é, em alguns aspectos. Na fase que representa a adolescência, é comum que nos achemos donos de todos os direitos e de nenhum dever, vemos somente interesses.
Nas escolhas dos adultos, o discernimento já deveria imperar; porém não é o que se vê.

Nosso papo foi sobre escolhas e seus desdobramentos nas interações.

Espero ter alertado o leitor para que não usemos tanto o livre arbítrio de forma tão infantil e irresponsável criando tantos “nós cegos na evolução”, tão difíceis e dolorosos de desatar. Que não digamos mais que nossa vida apenas a nós interessa; que podemos fazer dela o que bem entendermos e que os outros não têm nada a ver com isso.
Espero ter relembrado o amigo para o uso da liberdade com responsabilidade; a lei de retorno e a lei de causa e efeito; a lei de trabalho e progresso; e a mais importante a de caridade e amor. Sim, cuidar das escolhas das crianças, por exemplo, é um ato de caridade.
Exaltei a liberdade; pois ela nos endeusa. Escolher implica em fazer uso da liberdade e, para exercitá-la o homem tem que pensar sempre, para se qualificar e ampliar o direito de ser cada vez mais livre, mais criativo, mais responsável, mais amoroso, mais Deus.
Foquei o conceito de interatividade ou progresso coletivo atrelado á responsabilidade pessoal foi o tema central da nossa conversa.

Para que vivamos em paz; espera-se que nos ajudemos uns aos outros a pensar sempre, o tempo todo, com toda a liberdade a que temos direito, procurando enfeitá-la com a responsabilidade. Não devemos esquecer mais, nunca mais, que a Humanidade e seus destinos dependem de nós eu e você...
Juízo, moçada! Especialmente os da mídia que assumiu um papel dos mais importantes na educação das crianças. Não abusem do conceito de livre arbítrio.

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